qua, 01/04/09
por Emerson Gonçalves |
categoria Marketing
A lojinha é simples, a calçada tem algumas lajotas quebradas na porta, nada de anormal, afinal ela está na periferia de uma cidade pequena do interior paulista. Na porta, atraindo a atenção de quem passa, uma camisa e um calção do São Paulo vestidos num manequim. O destaque visual, naturalmente, é quase total para a camisa. Como andava com esse post na cabeça e já tinha conversado com algumas pessoas de empresas e lojas - no caso aquelas que trabalham com os produtos quentes, oficiais - parei a pickup e, discretamente, fotografei a fachada da loja do outro lado da rua. Foto feita, câmera guardada, entrei na loja e fui atendido pela vendedora, que na verdade era a gerente e faz-tudo nos dias úteis, de pouco movimento.
- Quanto tá essa camisa do São Paulo?
- Tá R$ 19,99 à vista, mas você pode pagar em três vezes, uma mais duas, e ela sai por R$ 23,88.
- Ah… Tem tamanho grande?
- Essa aí já é a G.
- Hummmm… Tem a GG?
- Eu acho que não, acho que a fábrica só manda P, M e G. Mas ela é bem grandona e no corpo ela laceia.
Olho em volta, e entre os tênis, sandálias, vestidos, agasalhos, duas araras mostram mais camisas do São Paulo e do Corinthians, as duas em destaque. Nos cabides, camisas de outros times, inclusive do Rio, como Flamengo e Vasco.
- Vendem bem essas camisas de clubes?
- Ah, vendem bastante, sim. É uma das coisas que a gente mais vende aqui.
- E de quais times vendem mais?
- Do São Paulo e do Ronaldo, né? A gente já vendeu um monte das camisas do Ronaldo no Corinthians.
Pego a camisa do Ronaldo, número 9 às costas. Não tem o patrocínio da Medial, sinal que a rapaziada fora do oficial é bem ligada em marketing.
- E essa aqui do Ronaldo, qual é o preço?
- Tudo igual, não tem diferença.
Devolvo a camisa para a arara e pego uma do Vasco, modelo antigo, clássico, mais bonito mesmo.
- O pessoal paga mais à vista?
- Ah, não, as pessoas preferem pagar em três vezes, né? Pesa menos no bolso.
- Pessoal da roça compra bastante?
- Compram sim, mas só os mais novos, né.
Examino outras camisas, pego na mão, sinto a textura do tecido, procuro por bordados…
Bobagem, não há bordados.
Não é por aí, as camisas são extremamente simples, despojadas ao máximo. Mas vendem bastante e com certeza deixam seus donos felizes e orgulhosos, por desfilarem com a “mesma” camisa que Ronaldo veste, que Washington e Rogério Ceni vestem, ou Diego Souza ou Kleber Pereira.
Olho outras camisas. Uma do Flamengo tem o nome do Obina, enquanto a do Vasco está sem nome de jogador. Não deixa de ter lógica, vamos e venhamos.
Para uma gigantesca parcela de torcedores brasileiros, comprar essa camisa de 19,99 por 23,88 é um ato de afirmação, de orgulho, de prazer. Inconscientemente, ele até sente que está ajudando seu time do coração ao fazer isso. Conscientemente, não está nem aí. Seu negócio é ver os jogos pela televisão, torcer, comemorar, brincar com os amigos e ponto final.
Patrocínios, licenciamento de marca, royalties, pirataria… Nada disso tem importância em sua vida de torcedor e ninguém pode dizer que ele esteja errado. Longe disso, até. Esse torcedor, essa esmagadora maioria de torcedores, é apenas fruto de seu ambiente e de nossa cultura.
E ele é feliz assim.
Mas os dirigentes são infelizes assim.
Claro, exageram na dose de infelicidade, coisa boa “pra inglês ver”.
Afinal, pensando bem, a existência da pirataria é bastante útil na hora de explicar a ausência de realizações e a acumulação de dívidas.
Culpa da pirataria, culpa da crise, culpa disso e daquilo, culpa de cicrano e de fulano. É bom ter culpados por perto.
Este Olhar Crônico Esportivo tem como uma de suas metas abordar o marketing e sua importância para os clubes. Logo, é totalmente contra a pirataria, certo?
Certo, certíssimo.
Mas…
Opa, tem um “mas” no meio do caminho, como no meio do caminho do poeta tinha uma pedra. E o que quer dizer esse “mas”, ó amado e prestigiado guru? (Boas lembranças do “Seu” Rolando Lero, na Escolinha do Prof. Raimundo…)
Esse singelo “mas”, perdido aí no meio dessa camisaria, significa Brasil.
Como essa, existem milhares de outras lojinhas simples, sem as luzes, o charme e os custos dos shoppings, sem falar, é claro, dos vendedores ambulantes, os camelôs. De norte a sul as pessoas compram as camisas de seus times do coração e com elas desfilam, se identificam, se alegram.
Os clubes deixam de ganhar, é verdade, mas os torcedores ficam satisfeitos.
Comprar uma camisa não-oficial por 23,88 em três parcelas é bem a cara do Brasil, é bem a cara da nossa cultura, é bem a cara da nossa distribuição de renda.
Então, como ficamos?
Esta foi a primeira parte de um post sobre a questão das camisas oficiais e seus preços. Na parte seguinte falarei sobre o porque as camisas oficiais custam o que custam e se há perspectivas desses preços abaixarem. Ficou faltando a foto da lojinha, que não foi publicada por problemas do servidor.
http://colunas.globoesporte.com/olharcronicoesportivo/2009/04/01/227/#comments
por Emerson Gonçalves |
categoria Marketing
A lojinha é simples, a calçada tem algumas lajotas quebradas na porta, nada de anormal, afinal ela está na periferia de uma cidade pequena do interior paulista. Na porta, atraindo a atenção de quem passa, uma camisa e um calção do São Paulo vestidos num manequim. O destaque visual, naturalmente, é quase total para a camisa. Como andava com esse post na cabeça e já tinha conversado com algumas pessoas de empresas e lojas - no caso aquelas que trabalham com os produtos quentes, oficiais - parei a pickup e, discretamente, fotografei a fachada da loja do outro lado da rua. Foto feita, câmera guardada, entrei na loja e fui atendido pela vendedora, que na verdade era a gerente e faz-tudo nos dias úteis, de pouco movimento.
- Quanto tá essa camisa do São Paulo?
- Tá R$ 19,99 à vista, mas você pode pagar em três vezes, uma mais duas, e ela sai por R$ 23,88.
- Ah… Tem tamanho grande?
- Essa aí já é a G.
- Hummmm… Tem a GG?
- Eu acho que não, acho que a fábrica só manda P, M e G. Mas ela é bem grandona e no corpo ela laceia.
Olho em volta, e entre os tênis, sandálias, vestidos, agasalhos, duas araras mostram mais camisas do São Paulo e do Corinthians, as duas em destaque. Nos cabides, camisas de outros times, inclusive do Rio, como Flamengo e Vasco.
- Vendem bem essas camisas de clubes?
- Ah, vendem bastante, sim. É uma das coisas que a gente mais vende aqui.
- E de quais times vendem mais?
- Do São Paulo e do Ronaldo, né? A gente já vendeu um monte das camisas do Ronaldo no Corinthians.
Pego a camisa do Ronaldo, número 9 às costas. Não tem o patrocínio da Medial, sinal que a rapaziada fora do oficial é bem ligada em marketing.
- E essa aqui do Ronaldo, qual é o preço?
- Tudo igual, não tem diferença.
Devolvo a camisa para a arara e pego uma do Vasco, modelo antigo, clássico, mais bonito mesmo.
- O pessoal paga mais à vista?
- Ah, não, as pessoas preferem pagar em três vezes, né? Pesa menos no bolso.
- Pessoal da roça compra bastante?
- Compram sim, mas só os mais novos, né.
Examino outras camisas, pego na mão, sinto a textura do tecido, procuro por bordados…
Bobagem, não há bordados.
Não é por aí, as camisas são extremamente simples, despojadas ao máximo. Mas vendem bastante e com certeza deixam seus donos felizes e orgulhosos, por desfilarem com a “mesma” camisa que Ronaldo veste, que Washington e Rogério Ceni vestem, ou Diego Souza ou Kleber Pereira.
Olho outras camisas. Uma do Flamengo tem o nome do Obina, enquanto a do Vasco está sem nome de jogador. Não deixa de ter lógica, vamos e venhamos.
Para uma gigantesca parcela de torcedores brasileiros, comprar essa camisa de 19,99 por 23,88 é um ato de afirmação, de orgulho, de prazer. Inconscientemente, ele até sente que está ajudando seu time do coração ao fazer isso. Conscientemente, não está nem aí. Seu negócio é ver os jogos pela televisão, torcer, comemorar, brincar com os amigos e ponto final.
Patrocínios, licenciamento de marca, royalties, pirataria… Nada disso tem importância em sua vida de torcedor e ninguém pode dizer que ele esteja errado. Longe disso, até. Esse torcedor, essa esmagadora maioria de torcedores, é apenas fruto de seu ambiente e de nossa cultura.
E ele é feliz assim.
Mas os dirigentes são infelizes assim.
Claro, exageram na dose de infelicidade, coisa boa “pra inglês ver”.
Afinal, pensando bem, a existência da pirataria é bastante útil na hora de explicar a ausência de realizações e a acumulação de dívidas.
Culpa da pirataria, culpa da crise, culpa disso e daquilo, culpa de cicrano e de fulano. É bom ter culpados por perto.
Este Olhar Crônico Esportivo tem como uma de suas metas abordar o marketing e sua importância para os clubes. Logo, é totalmente contra a pirataria, certo?
Certo, certíssimo.
Mas…
Opa, tem um “mas” no meio do caminho, como no meio do caminho do poeta tinha uma pedra. E o que quer dizer esse “mas”, ó amado e prestigiado guru? (Boas lembranças do “Seu” Rolando Lero, na Escolinha do Prof. Raimundo…)
Esse singelo “mas”, perdido aí no meio dessa camisaria, significa Brasil.
Como essa, existem milhares de outras lojinhas simples, sem as luzes, o charme e os custos dos shoppings, sem falar, é claro, dos vendedores ambulantes, os camelôs. De norte a sul as pessoas compram as camisas de seus times do coração e com elas desfilam, se identificam, se alegram.
Os clubes deixam de ganhar, é verdade, mas os torcedores ficam satisfeitos.
Comprar uma camisa não-oficial por 23,88 em três parcelas é bem a cara do Brasil, é bem a cara da nossa cultura, é bem a cara da nossa distribuição de renda.
Então, como ficamos?
Esta foi a primeira parte de um post sobre a questão das camisas oficiais e seus preços. Na parte seguinte falarei sobre o porque as camisas oficiais custam o que custam e se há perspectivas desses preços abaixarem. Ficou faltando a foto da lojinha, que não foi publicada por problemas do servidor.
http://colunas.globoesporte.com/olharcronicoesportivo/2009/04/01/227/#comments
Última edição por Eduardo Trigo em Seg 06 Abr 2009, 16:43, editado 1 vez(es)
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