O público de São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte não é páreo para o de Curitiba. Pelo menos quando se fala em coleção de camisas de futebol. Diversos encontros já foram realizados na capital paranaense, com recorde acima de 60 pessoas -praticamente o dobro da média dos Estados do eixo.
No interior do Paraná, apesar da atuação mais tímida, os colecionadores não se intimidam. Situação provada em um encontro realizado recentemente em um shopping de Maringá.
"Esse tipo de eventos pode encorajar novos colecionadores, que vão ver o pessoal se divertindo e fazendo amizades por causa do hobby", ressalta o colecionador Danilo Hara, que conta com mais de 100 camisas do Londrina.
No entanto, está cada vez mais difícil encontrar camisas raras. Já faz parte do passado o tempo em que colecionadores garimpavam brexós em busca de uma boa camisa de futebol. Por causa dos preços atraentes, muitas vezes entre R$1 e R$10, os uniformes "sumiram" das lojas de usados de Curitiba.
Tudo pelo fato de que uma espécie de "leilão" passou a ser organizado por vendedores ou donos desses estabelecimentos. "Tem pessoas que passam aqui e deixam um dinheiro extra para reservar as oficiais.
Agora fica difícil de achar pra venda", disse uma vendedora do centro de Curitiba. Esse mesmo discurso foi repetido por diversos vendedores de roupas usadas. Alguns assumem: "Quem paga mais pela reserva ganha a preferência".
O destino de muitos desses fardamentos acaba sendo os pontos de venda na internet. Em sites como o Mercado Livre ou no Orkut, as camisas não são vendidas por menos de R$ 50. No entanto, existem casos em que a preciosidade garimpada a preço de banana no brexó chegou a ser negociada por mais de R$ 2 mil.
Para driblar a lógica de mercado, o colecionador Allan da Cunha Luz dá uma dica: a solução é buscar relíquias em outros espaços. "Eu particularmente costumo frequentar bazares de igreja. Está mais fácil encontrar camisas nesses eventos, pelos mesmos preços dos que antigamente eram cobrados nos brexós."
Interesses distintos
As camisas antigas de futebol seguiram o mesmo caminho de objetos com demanda e oferta: tornaram-se produtos negociáveis. "Nas camisas é assim: vende quem tem, compra quem quer", diz Deivid Briski.
Uma das coleções mais ricas do futebol paranaense está nas mãos de um flamenguista. O acervo de 162 camisas, de 52 equipes de todo interior do Estado, é propriedade do carioca Carlos Cardoso, 27 anos.
Carlos mora em Maringá há quase três anos. Desde então, negociou mais de mil camisas, inclusive do seu primeiro time do coração, para conseguir o acervo paranaense. "Vendi a maioria e só guardei as mais especiais, como a do Flamengo, que tem dedicatória do Petkovic pra mim, usada na conquista do Campeonato Brasileiro de 2009".
Parte considerável do acervo é do antigo Grêmio Maringá, clube que o colecionador aprendeu a torcer mesmo sem ter tido a oportunidade de conhecer. "Mas troco jogos do Flamengo na TV por qualquer um do Grêmio Metropolitano, na Terceira Divisão do Paranaense. Lugar de torcedor é no estádio", avalia.
O colecionador, que trabalha como engenheiro civil, estima que suas camisas de times paranaenses valem mais de R$ 20 mil. No entanto, deixa claro: "Nenhuma delas está à venda."
Relíquias de pano
Guardar uma relíquia do clube do coração é como voltar no tempo. É um hobby que não tem preço. Quem garante é o colecionador Deivid Briski, 34 anos, ilustra um movimento crescente entre os torcedores de futebol: o daqueles que se arriscam a pagar um preço alto ou fazer sacrifícios para ter camisas raras em seus guarda-roupas.
Torcedor do Coritiba, Deivid pagou R$ 1 mil pelo arrependimento de não ter pedido de presente a camisa do Verdão campeão brasileiro em 1985. "Tive que vender três camisas e um agasalho pra poder comprar ela em 2008. É a mais importante da coleção. Com ela, me lembro dos tempos de criança. Nessa época eu já ia aos jogos com meu pai e meu irmão", recorda.
Deivid considera tão preciosa sua relíquia - a camisa é a que foi utilizada pelo ex-atacante Índio, na final do Maracanã - que avalia bem as circunstâncias em que raramente a tira do armário. "Só posso usá-la em dia que não tem Green Hell ou quando não está chovendo", ressalta.
Nem todos, porém, precisaram desembolsar uma grana alta pra obter suas preciosidades. É o caso do atleticano Hélcio Luiz Leite, 29 anos. "Meu pai ganhou uma camisa usada pelo Joceli entre 1983 e 1984.
Por ser uma raridade, e pelo fato do ex-goleiro ter cometido suicídio, sempre que vou ao jogo na Arena da Baixada aparece alguém pra elogiar ou até mesmo fazer ofertas", conta o colecionador.
Precaução diferenciada tem o paranista Allan da Cunha Luz. Ao todo são 148 fardamentos escondidos feito tesouro. "Deixo minhas camisas na casa de um familiar, em um local que só eu sei onde fica", ressalta o rapaz de 29 anos.
Dono de um invejável acervo, que precisa de apenas mais duas camisas para completar todas da história do Tricolor, Allan chegou a fazer um acordo com a namorada. "Já está decidido. A partir do momento que nos casarmos, nossa casa terá um cômodo especial só pra exposição dos mantos sagrados".
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